23.11.10

In the middle of a crisis

Eu acho que estou no meio de uma crise profissional.
E isso pra mim é grande coisa.

Já vivi crises emocionais diversas a ponto de me acostumar e ainda que sofresse, eu sabia que iria me reconstruir. Mas agora é diferente. Não cheguei ao ponto de desabar. Não na prática. Mas mentalmente sim. Há um desmoronamento terrível de idéias dentro da minha cabeça. E um desmoranamento terrível de emoções em meu coração.

Entre tantas brincadeiras de criança, a que mais me marcou era a de brincar de ser trabalhadora. Isso mesmo: tra-ba-lha-do-ra. Eu era secretária, vendedora e, acreditem, empregada doméstica. E tudo isso era porque eu precisava ser independente, sustentar minha filha (uma boneca lascada - literalmente - já nos últimos meses de vida, já que tanto gastei aquela coitadinha) e eu tinha que vencer.

Meio pesado pra uma criança entre seus 6, 7 anos, né? Mas era assim que eu brincava e me divertia.

Mas se me perguntassem o que eu queria ser quando crescesse, a resposta da ponta língua era: médica pediatra. Profissão que boa parte das meninas queria seguir e não tinha noção do que realmente as esperava.

Bastou avançar alguns anos pra eu descobrir que na verdade eu podia ter talento pra muita coisa, menos para a Medicina. E apesar de adorar Moda desde pequena, não via isso como uma profissão segura, que pudesse bancar a mulher autônoma e independente que eu queria ser, pelo menos na Bahia e naquela época. Mas também não cogitava ir para outro estado.

E fui pensando que poderia ser jornalista (não!), publicitária (não!), advogada (nãaaaaaaaaaoooo!!!), turismóloga(hummm...mesmo Juliana?), fora as outras mil coisas que passavam pela cabeça.

Foi quando resolvi fazer uma orientação vocacional durante 4 meses, que me ajudou a descobrir talentos, vocações, possibilidades e chegar a uma conclusão (das psicólogas): Relações Públicas!

Ô, da pra me explicar que zorra é Relações Públicas?

Foi assim que reagi. Acho que pelo que entendiam era algo que uma pessoa com bons dons de comunicação poderia se dar bem. Obrigada pela parte dos "dons em comunicação" que me toca. Mergulhei em pesquisas, achei que poderia ser minha praia e plimmm: decidi a profissão.
Prestei vestibular pra Relações Públicas nas duas únicas universidades que ofereciam o curso na época, para Produção Cultural (passei apenas na 1ª fase) e para Turismo (desisti de fazer o 2º dia de provas).

Passei nas duas primeiras e optei pela pública. Me encontrei lá.
Foram 4 anos onde descobri que essa tal profissão tinha coisas interessantes e não é que eu tinha talento pra coisa?Além de uma confiança que eu daria certo que me mantinha motivada, mesmo entre os colegas pessismistas que achavam que aquele curso não serviriam pra nada além de fornece-lhes um diploma de nível superior (e muitos continuam achando). Tinha um negócio aqui dentro que falava que apesar da falta de reconhecimento da área no mercado, de outros profissionais não-qualificados exercerem a função, eu acharia meu lugar ao sol.

E achei.

As oportunidades surgiram, eu fui aprendendo, me dedicando, quebrando a cara e superando. E tinha o maior orgulho de dizer qual a era a minha profissão, defender com unhas e dentes sua importância para um bando de desavisados que a criticavam.

E desde então tem sido tudo que me tornei enquanto profissional, agarrada ao título e a experiência que ganhei. A vida profissional se tornou tão forte, que se confundiu com minha própria identidade. Tal qual eu não previra, mas desejara muito quando criança. A mesma identidade que agora tenho medo de perder porque ando extremamente confusa em relação ao que sou ou quero ser profissionalmente.

Apesar da minha carteira de trabalho estar registrada com o título universitário, atualmente não exerço as funções da área. Mas não exerço porque optei por um novo desafio que bateu à minha porta. Mas só agora percebi que abri mão (pelo menos,temporariamente) de um título ao qual me agarrei com todas as forças, a ponto de me confundir com ele.

E acho que esse texto não vai ter uma conclusão, porque não tenho nenhuma conclusão, solução ou resposta agora. Ele vai ficar exatamente como está, sendo um desabafo que me aliviou o peito de forma salvadora. Depois do alívio veio um vazio. Um vazio tão bom, porque pensar muito nisso cansa e entristece. Então, agora preciso ficar com esse vazio. E talvez depois eu escreva outro texto que me ajude a elaborar esse momento e me deixe mais aberta para o que vem depois.